Felipe Pereira é cantor, compositor, produtor, diretor visual e mentor do projeto Peartree. Nasceu em Diadema (SP).

Como você decidiu que música seria o seu caminho?
É uma boa pergunta, se eu decidi isso ou não. (risos) Nasci numa família meio protestante, então estava acostumado com um ambiente no qual música fazia parte pelo menos dos finais de semana. Me identifiquei com a história de outros artistas, gente que conheci depois e que teve mais ou menos a mesma trajetória. Então era isso, o meio no qual eu estava inserido era muito musical. Eventualmente, peguei um violão e comecei a fazer alguns barulhos. Minha mãe gostava muito de música também e estudava música quando eu era bem novo. Éramos simples e tivemos a oportunidade de comprar um piano por um preço muito mais barato do que o normal. Ou seja, eu estava com uns seis anos e tinha um piano em casa, o que me introduziu à música.

Quando eu tinha sete ou oito anos, peguei um violão na casa do meu tio e ele viu que eu estava me esforçando pra tentar tirar alguma coisa, mas não sabia absolutamente nada. Ele resolveu me dar uma dicas, umas aulas, ensinar os primeiros acordes e, a partir daí, eu não fazia outra coisa.

Dos oito aos doze anos, morei em Fresno, na Califórnia, e foi uma experiência bem boa. Lá, o incentivo à música que eles dão até para as pessoas mais humildes é outro nível! Eu estudava em uma escola pública, mas, mesmo assim, pude fazer aulas de flauta transversal e compor a orquestrinha do colégio. Aprendi muito sobre teoria musical lá e também sobre como fazer parte de uma banda maior e mais organizada. Foi massa! Meus pais me colocaram para fazer aulas de piano, pra formalizar os barulhos estranhos que eu já criava desde pequeno. Aí comecei a querer aprender outros instrumentos, como gaita, guitarra, baixo… Não aprendi nada bem, foi um pouquinho de tudo. Eu sempre fui assim: não queria ser excelente em uma coisa, queria saber um pouquinho de tudo e depois usar isso para formar algo maior. Era o tipo de interação que queria ter com a música e com outras coisas também. A partir daí, a música sempre fez parte da minha vida e sempre tive uma espécie de projeto paralelo que a envolvesse.

Queria que você me dissesse hoje, como músico, quem é o Felipe Pereira solo e quem é o Felipe no Peartree.
O Felipe solo é um pouquinho mais eclético, talvez. Ele gosta de outros estilos musicais além do synthpop, estilos que podem parecer não ter nada a ver. Eu já passei por várias fases, tem momentos em que gosto muito de folk e me dedico para caramba, quero conhecer mais, buscar bandas, ter influências, melhorar a minha percepção do estilo… E tem fases em que sou exatamente o contrário, completamente eletrônico, só quero saber de synth, como manipular, como fazer interação para que saia algo interessante… Já o Peartree surgiu de uma necessidade que tive de explorar um pouco mais essa fase eletrônica e o synth, o teclado, que era algo que sempre esteve comigo. O Peartree engloba todas as influências musicais que cultivei durante os anos. Às vezes, o Peartree é eletrônico, é digital, mas tem suas nuances orgânicas, que surgiram destas tais influências.

Por que cantar em inglês? Por que cantar em português?
É uma excelente pergunta. Pode parecer clichê, mas… porque é natural, digamos assim. Se não fosse natural, eu não faria. É natural no sentido de como eu imagino o meu tempo nos Estados Unidos. Foi uma influência muito grande na minha vida e o inglês se tornou algo espontâneo. Lá, depois de um tempo, eu parei de falar português, porque você absorve tudo em inglês. Mesmo em casa! Tive o reflexo de me adaptar muito rápido, você quer se inserir na nova cultura da qual agora faz parte. Quando voltei dos Estados Unidos, eu falava português com sotaque, era a coisa mais bizarra da face da Terra! (risos) E tem uma coisa ainda mais bizarra… É ridículo, estou plenamente ciente do quão ridículo é, mas, até hoje, quando eu vou cantar em português, ainda canto com a droga do sotaque! (risos) É claro que ele é bem leve e sutil, mas me acostumei de tal forma que simplesmente acontece.

Você consegue escolher duas músicas que gostaria muito que fossem suas?
Nossa, esta é uma pergunta absurdamente difícil. Uma delas seria “Midnight City“, do M83, porque é um hino, basicamente! M83, na verdade, é uma super influência pra mim, tem muito uma característica de fazer coisas épicas, como se a sua vida fosse uma trilha sonora. Quando ouvi ‘Midnight City’ pela primeira vez, foi muito chocante. Outra muito boa é “Luna“, do Bombay Bicycle Club, que ouço bastante desde que conheci. A banda é uma influência bem forte para mim também.

Já falamos um pouco sobre suas origens, mas eu queria saber como ou se suas origens influenciaram o tipo de música que você decidiu fazer.
Nasci em 1987 e minha infância, o que tinha sobrado dos anos 80, vazou um pouco para o começo dos anos 90, então tinha muito daquela sonoridade meio tosca e meio até cafona, que era algo do qual eu gostava bastante quando criança. Quando adolescente nem tanto, nessa época você muda um pouco os gostos. Muita gente nesta fase vai pra um caminho semelhante, acho interessante isso! Quando criança, você tem a influência das músicas que seus pais ouvem e, no começo dos anos 90, a gente acabava escutando aquelas faixas que tinham um pé no brega, com baterias exageradas e synths ruins, mas porque eles ainda não possuiam tecnologia pra fazer um negócio melhor, então contornavam o problema fazendo os timbres que faziam. A música acabava saindo de uma forma genuinamente cafona, mas um cafona legal, divertido para caramba! Quando descobri, através de algumas bandas, como M83 e Chvrches, que estava rolando um reavivamento desta sonoridade oitentista, achei bem legal. A partir do momento em que comecei a explorar algumas coisas do mundo eletrônico e, de uma forma ou de outra, correr atrás desse estilo, vi que era uma proposta muito boa essa de pegar timbres e coisas oitentistas e usar isso dentro de um universo em que existe tecnologia – pra fazer um som de um jeito melhor.

Falando em influências e inspirações… O melhor festival de música do mundo vai ter Peartree e mais três nomes, que podem tocar com você ou que você pode assistir. Quais seriam estes nomes?
Um deles com certeza seria Sigur Rós, o outro seria uma das minhas bandas favoritas, a Mutemath… E pegaria um clássico, chamaria New Order. Seria um festival bem bizarro e desconexo, mas… (risos)

Você é um artista. Queria que me contasse qual é maior dor e a maior delícia de ser um artista.
A maior dor, no meu caso, é não poder ser um artista full time, muitas vezes ter uma ideia boa e correr pro banheiro da agência para gravar no celular e guardar isso até de noite para, quando voltar do trabalho, trabalhar nela durante a madrugada. A maior delícia é quando você tira alguma coisa do forno, quando consegue parir algo de fato. Descobrir que você conseguiu ser uma ferramenta para algo vir ao mundo… Esta é a melhor sensação.

Você também trabalha em uma agência?
Sim, trabalho em uma agência de publicidade, porque sempre tive duas paixões: a música e o audiovisual, que estudei um tempo em Nova York. Fiz um curso de cinema lá e trabalho hoje em dia fazendo projetos relacionados a audiovisual para publicidade, que é onde dá para ganhar algum dinheiro. (risos)

Fotos: Carolina Vianna | Entrevista: Fernanda Meirelles

ABRIL DE 2016

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