Mariana Volker

Mariana Volker, nascida no Rio de Janeiro (RJ), é cantora e compositora.

Parabéns pelo álbum novo [“Impossível Dizer Que Não Senti”]! O lançamento de um álbum deve ser um processo bastante catártico. Como foi a estreia? Como você está se sentindo agora que “foi”?
Foi muito catártico. Nunca é suave o processo de fazer discos, sempre é um processo de parir, mesmo. Tem horas em que você fala “não vai rolar, não quero mais” e logo depois emenda um “nossa, é isso”! Tem um encantamento. E este foi um disco que não nasceu com a ideia de ser um disco. Lá atrás, quando o comecei no início da pandemia, quis fazer um EP com quatro músicas acústicas. Queria gravar as vozes em casa, porque estava todo mundo confinado. Aí virou um disco de nove músicas, com muitos canais e instrumentos… virou o que virou porque ele foi acontecendo! E nesse processo, às vezes a gente acaba se questionando sobre muitas das músicas… Uma das minhas preferidas do disco, por exemplo, quase tirei de lá – e isso é muito louco. Mas foi bom, porque acho que, nesse disco, eu entendi a minha linguagem, minha força como artista, o que eu sei fazer como compositora, cantora… Eu entendi real qual é a minha força, sem me comparar com o caminho de outros artistas, e entendi também que não tenho a “obrigatoriedade” de fazer dançar o tempo todo. Tem isso no disco, essa alegria, a coisa viva está muito presente no meu trabalho, mas eu não tenho obrigatoriedade de ser assim o tempo todo. Tá tudo bem se eu tiver músicas que trazem uma sensação mais profunda, então foi bom, um processo de terapia, divã total. E o show está catártico também, muito redondo… a banda inteira junta – são seis músicos mais eu no palco, com percussão, tem metais, tá muito bonito, quente!

Hoje em dia, quando você lança, tem uma expectativa, claro, mas, ao mesmo tempo, por conta do mercado, é como se você jogasse uma semente, na verdade. E aí, às vezes, a música só vai reverberar alguns meses depois. Isso acontece, sabe? Claro, os artistas grandes, já consagrados, lançam e têm essa explosão, mas os menores lançam e vão fazendo aquela coisa de conexão: uma pessoa vai mandando pra outra que vai mandando pra outra e, quando você vê, tem um monte de gente falando sobre isso e pessoas te convidando pra fazer coisas… É um processo. A gente fica na ansiedade de querer ser reconhecido nos primeiros cinco minutos, mas não é assim. Tem que administrar essa ansiedade.

Ter uma trajetória musical tão farta com pouca idade é algo muito admirável, é bem legal o tanto de coisa que você já fez – e coisas diferentes! De onde você acha que surgiram as primeiras faíscas da música na sua vida?
Acho que foi uma força que me puxou… eu tenho essa lembrança, de ser uma coisa “de repente”. Sempre gostei de música, sempre gostei de fazer apresentações em casa… Quando me tornei adolescente, tinha MTV, rádio com fita cassete preparada pra gravar momentos especiais, e aí comecei a ir a shows. Eu gostava muito de Charlie Brown, por exemplo, de Raimundos, ia aos shows deles. E tinha sempre uma sensação muito louca quando eu via o show, tinha um siricutico de querer estar lá. Não sabia nem exatamente o que era, mas eu queria estar naquele lugar! Aí, nesse momento, meu irmão começou a estudar violão/guitarra e eu cantarolava. Uma amiga da escola falou “cara, vamos fazer aula de canto, acho que você tem uma voz boa”, e comecei a cantar… Eu já gostava de música, mas não tinha a consciência de “querer ser cantora”. Fui acontecendo cantora. Fui parar numa escola de música e lá conheci a Valentina Zanini, que veio a ser minha grande parceira e irmã, baixista da minha ex-banda, a Unidade Imaginária.

É uma trajetória de várias pequenas etapas mesmo, né.
E eu vi muita gente desistir, e isso é foda, vi muita gente muito boa falar “cara, é trampo demais”, e eu sinto que, quando estou aqui, carrego a mochila com a galera atrás, sabe? Com as pessoas que estiveram comigo e que em algum momento da vida, muitas vezes por motivos financeiros, não conseguiram seguir. Trago essas pessoas comigo.

Que bonito isso.
É resistência, né? Tiveram momentos em que eu desisti, “nunca mais vou cantar e não me peçam”. Mas depois a gente volta, é uma coisa que da vida, mesmo… tem gente que vem pro mundo pra fazer determinadas coisas, sabe? É essa a força que me puxa.

Qual momento da sua carreira você gostaria de viver de novo?
Quando a minha banda concorreu ao VMB, em 2010. Foi uma fase em que começamos a frequentar a MTV, era muito incrível, a gente ia pra lá dar entrevista, participar de programas e tinha toda aquela expectativa, a gente já estava começando a fazer vlog, tinha o Youtube também começando a bombar, aí fazíamos vídeos de bastidores… a gente já produzia conteúdo naquela época! Foi uma fase muito boa. Outro momento foi um show com a Unidade Imaginária que fizemos em Rio Claro – chegamos sem saber o que ia acontecer e galera inteira estava cantando as músicas – muito irado, foi numa uma estação de trem e estava cheia! – e tinha da patricinha ao punk, as pessoas sabiam as músicas, foi incrível.

Você tem uma relação muito forte com Carnaval. Como isso ficou depois de 2 anos de pandemia?
Amo Carnaval, sou apaixonada, trabalho com Carnaval há muitos anos. Comecei em 2010 com Carnaval mirim, mas ja trabalhei com a Grande Rio, com Carnaval Experience, já atendi a Acadêmicos da Rocinha numa época em uma agência, então sempre gostei muito, mas na Pimpolhos, a escola mirim da Grande Rio, eu fiquei muito tempo no Barracão, os carnavalescos eram meus amigos, tinha ali uma galera das artes, do Cinema… Gosto muito do Carnaval de avenida, é o meu preferido, o de rua também amo, mas de manhã não rola, porque sou notívaga (risos), então na prática sempre fujo! Mas o Carnaval de avenida… eu gosto do construir, gosto de ir pra barracão, dos carros alegóricos, de pensar enredo… Principalmente o carnaval mirim, que não tem grana e os materiais acabam sendo super simples, tipo tnt, e ver virando alegoria, isso muda a cabeça dos artistas que passam pelo Carnaval. Principalmente o mirim, que tira leite de pedra. Acho muito enriquecedor!

Mari, já vi você falando que vê cor no som, achei muito legal!
Mariana: Eu vejo super! Às vezes eu vejo uma foto em preto e branco, acho lindo, mas não me identifico, sinto falta da cor. A cor me cura de certa forma, parece fazer mais sentido… Antes de eu me apaixonar pelo som, eu me apaixonei pelas cores, é uma coisa lá da minha infância.

O que você gostaria de estar fazendo exatamente agora daqui a 5 anos, em 2027?
Gostaria de estar fazendo turnê. De estar na ativa, gravar, ter um estúdio em casa, já ter uma casa minha onde eu pudesse produzir… queria já estar vivendo de música, quem sabe com um filho! É isso. Gostaria de estar com a cria e vivendo de música. Vai rolar!

Qual é a maior dor e a maior delícia de ser uma artista?
A maior delicia é poder pegar os meus demônios, dançar com eles, consegui entender o que eles são e transformar tudo em arte – e ao mesmo tempo que isso me cura, também cura os outros. Eu faço música não porque eu quero ser a cantora número um, mas é porque tem essa coisa maternal da minha figura, eu sou muito canceriana, eu quero curar e abraçar todo mundo, eu quero que as pessoas coloquem pra fora essas emoções… A maior delícia é essa conexão com os outros, com o nosso interior, sabe?

E a dor… acho que vivemos hoje num país que não gosta da cultura, então a gente precisa matar um leão por dia para poder seguir com os projetos e realizá-los. A dor vem muito desse processo árduo e, dentro disso, também tenho muitas questões por estar lidando com a minha imagem, com coisas do meu íntimo. Você tem que percorrer essa trajetória para descobrir o que quer fazer e, muitas vezes, precisa lidar com coisas difíceis a seu respeito… e acaba entendendo muita coisa ali. É pegar um martelinho e ficar quebrando, se lapidando, se melhorando.

Fotos: Carolina Vianna | Entrevista: Fernanda Meirelles

DEZEMBRO DE 2022

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