Cícero é cantor, compositor e produtor e nasceu no Rio de Janeiro (RJ).
Existiu um momento de “clique” na sua vida? Em que você entendeu que a música é a sua profissão, o seu caminho? Ou o processo foi mais orgânico?
A música como atividade sempre foi, desde que sou criança toco violão e componho. Desde pequeno mesmo: 10, 11 anos. E já gravava no gravador do meu pai, então, para mim, tocar, compor e gravar sempre foi a mesma coisa, nunca senti muita diferença. Foi um processo único de infância, que fiz muito a vida inteira. Teve sim um momento específico em que isso virou ofício, profissão, e foi recentemente, de três, quatro anos para cá. Antes disso, levei a vida toda do jeito “normal”, fiz segundo grau, faculdade de Direito, terminei, advoguei, fiz estágio… E aí, num dado momento, depois de eu já ter gravado uns cinco discos em casa, por causa de um disco especificamente, a coisa começou a virar trabalho. Então fui deixando as outras coisas e hoje em dia eu faço só isso. Mas continuo com aquelas mesmas atividades de quando era criança, só que agora elas também são o meu trabalho, que é gravar discos em casa. Inclusive, o último disco também gravei quase todo em casa.
Legal isso! Por que você tem essa preferência?
Não é nem preferir, é como aprendi a fazer, sabe? Vamos para estúdios e encontramos pessoas dizendo que horas precisa começar ou acabar, gente falando que isso pode ou não pode, que esse é o microfone que tem que usar… Isso para mim já gera um desconforto, porque o meio de gravação em que eu estou cuidando das coisas é muito natural. É mais ou menos como fotografia, como usar uma câmera HD ultra e eu quero uma Kodak de filme. Para mim, se aquele registro é tão bom quanto, me dá uma certa preguiça ouvir que “não pode”. Eu entendo que as tecnologias ajudam, mas, hoje em dia, gravar em casa e em um estúdio, para mim, não tem mais diferença nenhuma: é o mesmo microfone, o mesmo computador, entendeu? A única diferença é que você vai até um lugar onde há um “cerimonial”, pessoas te dizendo “vai, gravando!” e, em casa, não. Você pode fazer às duas da manhã, com um café na mão. Todos os grandes discos que ouvi na vida foram gravados assim, dos Beatles ao Jimi Hendrix, os discos do Caetano também, da Tropicália… Eles não eram gravados com super produções em estúdios com grandes laboratórios de manipulação. Eram caras com microfones em um ambiente, gravando as coisas e querendo chegar em um resultado. Aí, com a internet, que virou um troço muito louco, porque você não só grava como também distribui, o estúdio virou mais um nome do que uma realidade. As próprias gravadoras, hoje em dia, te mandam gravar do jeito que você quiser, “volta aqui com o disco pronto”, e pra mim facilitou muito, porque continuei em uma onda na qual já estava.
E foi uma questão para você em algum momento largar o direito e parar de advogar? Teve um bug mental ou foi algo bom e que te deixou muito feliz?
Bom e que me deixou muito feliz. Porque, como te falei, eu já gostava de música, já gravava, fiz Direito porque meus pais são advogados e eles tinham a preocupação que eu tivesse um ofício e, embora eu já desconfiasse que música poderia ser isso também, eu concordava que provavelmente não pagaria as minhas contas. Até porque não sou cantor, compositor ou instrumentista, meu negócio é fuçar, eu gosto de gravar, gosto de tocar. Então pensei: “Vou fazer Direito, mesmo, e assim garanto esta frente de atuação e não transformo a música em um fardo!” Eu podia ficar em casa tocando com alegria, e sem ter que falar “meu Deus, como é que eu vou pagar as minhas contas?”. Fiz Direito sem bode, era ótimo, comecei na Defensoria no sétimo período… Adorava a Defensoria Pública, os processos, cheguei a namorar a defensora (risos), a gente ficou dois anos namorando, discutíamos processos em casa… Era algo que eu gostava de fazer. E aí, já estudando pra fazer prova para a Defensoria Pública, gravei o “Canções de Apartamento”, porque terminei o namoro, tomei um pé e fiquei com aquelas músicas lá. Eu já tinha gravado três discos com banda e já usava MySpace, Trama Virtual, Orkut, fazia pequenas turnês, todas essas coisas de banda. Essa foi uma fase muito louca, eu tinha 24 pra 25 anos…
Quantos você tem agora?
Trinta! Então, eu estava estudando pra Defensoria e passei por aquela fase em que tudo acabou: namoro, banda, faculdade, estágio… E aí fiquei muito tempo ocioso, com essa sensação de “caramba, o que vou fazer agora?” Gravei o “Canções de Apartamento” com músicas que a banda tinha rejeitado, porque eram, segundo eles, “cafonas, românticas” e eu tinha uma banda de rock. Aí coloquei no Facebook, de 2010 pra 2011, bem quando ele estava começando. Foi uma união de forças: junto com o Facebook começando a rolar, tinha o disco ali, você dava play pelo próprio site, e foi uma doideira. O disco começou a se espalhar e aconteceu de virar algo além do som. Me chamaram pra tocar, aí teve esse negócio do Prêmio Multishow e, quando vi, virou trabalho. Mas não chegou a ser um susto, eu já fazia muitas coisas de banda, flyers, eventos… Só teve esse desconforto de passar de uma banda, a Alice, para o meu nome e a minha cara, Cícero. Essa transição foi um pouco chata. Mas foi mais chata no segundo disco do que no “Canções”.
Por quê?
Porque eu tive que aprender a lidar com tudo, com haters, críticas… Antes era um negócio muito específico, de uma banda indie como um milhão de outras. Depois virou algo com a minha cara. Mas também não foi o fim do mundo, depois de um ano ou dois eu comecei a entender que era uma coisa mais da Internet do que minha – tanto é que, logo depois, virou o que virou, manifestação, doideira, todo mundo achando tudo, falando de todo mundo… Era uma coisa mais do momento das pessoas com rede social do que comigo mesmo. Esta é uma década muito louca pra você entender as pessoas e suas redes sociais. Esta década ficou esquizofrênica para mim.
E estamos no meio dela! Ainda tem bastante a acontecer…
Pare para pensar no que rolou de 2011 até agora! Esse negócio de amor líquido, de relacionamentos líquidos, já leu sobre isso? A rede social transformou os relacionamentos em um simulacro de relacionamento, a gente se relaciona com um avatar, com um percentual da pessoa. Tem gente que têm milhões de seguidores, quantidades inacreditáveis, só porque o cara fez um Instagram com um boné para o lado… São 89 mil fotos dele fazendo a mesma cara, com o mesmo boné, do mesmo jeito… Mas aí vamos acompanhando e o número de likes só aumenta! E daqui a pouco a gente vê o cara com o mesmo boné, mas segurando um detergente! (risos) Depois um chinelo de uma marca maneira, ou seja, lucrando com isso.
Claro que sim! E você falou sobre ter “milhões” de seguidores, que nada, pode ser muito menos! A galera gosta de ser fã.
Criou-se uma “releitura” do espelho para os índios, a gente tinha uma autoimagem afinada para menos, talvez, nós brasileiros, e as redes sociais deixaram a gente ter essa imagem afinada para o mais: somos bonitos, legais, temos likes, podemos tudo, podemos tirar o presidente, ir para a rua, mudar o país… Só que você tem que saber para onde direcionar isso! É uma questão de imagem, e imagem é sempre perigosa. Mas acho que é uma febre, sou otimista. Estamos no auge da histeria, a próxima geração vai falar “calma aí, menos”. Vai naturalizar. A minha mãe, por exemplo, vê televisão o dia inteiro. Nós já não fazemos isso… E a minha irmãzinha de três anos usa celular melhor do que a gente. Ela tem um tablet e faz tudo, sabe usar o Waze… Quando tiver a nossa idade, ela não vai ver graça em tablet e Instagram, não vai ficar no Snapchat. Ela vai querer algo que estará muito adiante… E talvez a gente ainda esteja lá no Instagram, dando likes…
Ou talvez dê a volta: a experiência, o ir até lá, o pisar e o “sujar os sapatos” criem algum outro tipo de valor.
É. Mas eu fico pensando que não tem como essa galera que está vindo fritar com rede social, porque não vai ter graça! Tomara que não tenha.
Se pra gente já está perdendo… Nós, que somos o olho deste furacão!
Somos a geração que pegou o mundo sem internet, a viu explodir e vai vê-la diminuir, talvez. A minha mãe era meio radical com esse negócio de tecnologia, eu fui ter computador no segundo grau. Com internet, então, só no final, no terceiro ano! Quando eu entro nesses jogos mentais, sobre o que pode vir a acontecer, penso que nós somos animais e temos coisas relativas a isso que não conseguimos enfrentar, tipo termos sido feitos para ocupar um determinado espaço e nos relacionarmos com uma quantidade X de bichos que estão ao nosso redor. A internet te faz “conhecer” 7.456 pessoas, mas isso não é natural, você não conhece esse tanto de gente aqui, nesse terreno, você tem que se relacionar com pessoas com as quais você consegue lidar, senão entramos em uma realidade virtual de cinco mil amigos que não existe. Você não conheceria cinco mil pessoas no seu bairro ou nas suas redondezas. Há uma quantidade de pessoas com a qual conseguimos conversar, saber o que elas pensam, tal. A internet te dá esse número enorme de pessoas e você tem a falsa impressão de que as conhece, aí o seu cérebro assimila como se de fato as conhecesse e registra uma opinião sobre todas. Isso gera ansiedade e dá-lhe Rivotril! E agora as pessoas se aproximam por afinidades: não é porque você mora na Pompeia que só vai se relacionar com as pessoas de lá. Quem é que se parece comigo? Quem é que eu acho legal?
Além disso, não precisamos mais esperar para nada, né? Quando você falou sobre as crianças de hoje pensei nisso, não é preciso esperar para ver o desenho favorito, por exemplo. E mesmo na música, também podemos ouvir algo e assistir à entrevista de um cantor, por exemplo, quando quisermos. Está tudo mais fácil, na mão.
E aí entram muitas variáveis. Tem gente que acha que temos que atender as demandas da ansiedade, tem gente que acha devemos ignorar isso… Eu não sei ainda: com a internet, você está em um avião a milhares de pés de altura, em cima de um oceano, e puto porque a conexão está travando. Cara… Você está em um avião, sabe? (risos) A ansiedade é um monstro que nunca será saciado! Então não esperar para nada pode ser muito bom ou muito ruim, depende do nível de ansiedade que você deposita ali em cima.
Bom, vamos voltar às perguntas. (risos) Você me falou sobre como começou, dá pra pensar em como gostaria de terminar?
Eu queria ter uma discografia foda. O meu plano de vida é esse, ter discos que justifiquem as minhas escolhas. Fiz várias escolhas e todas são alicerçadas no sentido de que virarão registros discográficos. Ao final da minha vida, gostaria que esses discos fossem um portfólio das minhas escolhas! Isso já me justifica para mim mesmo. E é isso, estes três primeiros discos que eu fiz me abriram portas e mudaram tudo. Eu continuo vendo os meus discos como chaves para novas fases!
Me diz uma coisa: tocar fora do Brasil é de fato tão diferente ou isso é balela de gringo?
É muito diferente, sim. Porque quando você canta em português para uma pessoa que entende a língua, você está falando de um jeito. Quando canta para um francês ou um italiano, que não está entendendo aquilo, você sente que ele te lê de outra forma, ele está vendo a melodia, observando como você toca violão, a forma como você balança, dando atenção para outras – e aí passamos a dar atenção para isso também. Em Portugal, por exemplo, onde é o mesmo idioma, mas a gramática é diferente, a ordem do verbo e do substantivo é diferente, você questiona o que você está falando, sabe? “Será que é isso mesmo o que eu queria dizer?” Enfim, mudam intenções. E quando você volta para o seu lugar, retorna mais amplo.
E no sentido de energia? Porque músicos que vêm pra cá dizem que tocar no Brasil é diferente por conta de uma energia de público. Você sente isso?
Cara, para mim, o Brasil é muito um continente, com certeza. Não tem nada a ver tocar em São Paulo e em Salvador, em Curitiba e em Maceió… Nada, nada. São seres humanos diferentes! Tem muito mais a ver tocar em São Paulo e em Nova York do que na Bahia. É outro sol, outra geografia, outra comida, outra política, tudo! As pessoas são diferentes. É que a gente se acostumou com isso de que o Brasil é um país, mas não é, cara. Você faz um show em Lisboa e depois na França e a distância entre os dois lugares é menor do que Maceió e Curitiba, que estão no mesmo país. Então tocar no Brasil é muito nebuloso. O que eu acho ótimo, gosto disso, me dá a impressão de que o Brasil se basta. É que nós somos muito novos, 500 anos são pouquíssima coisa historicamente falando. A gente não sabe política muito bem, achamos que podemos tirar e botar presidente porque a gente quer ou não, é uma noção muito básica de sociedade, mas é foda viver em um “continente” com todo mundo falando o mesmo idioma, mesmo sendo muito diferente. Esta diferença está mais no bom no que no ruim. O problema é que tudo o que a gente faz fica muito grande, tudo vira milhões! Portugal é um país inteiro com metade da população de São Paulo. Para organizar é tranquilo, vai. Agora organiza o Brasil. Não tem como!
Você consegue pensar em duas músicas que queria muito que fossem suas?
Uma porrada! Cara, sempre quis ter feito “Alegria, Alegria”, do Caetano [Veloso], desde criança. Lembro que era pequeno e chorava com essa música, porque tinha alguma série com ela na trilha, enfim, tocava essa canção quando eu era bem criança, entrou na memória afetiva de infância. E uma outra que eu lembro que ouvia muito nessa fase era o John Lennon cantando “Stand By Me”. Toquei essas duas músicas no violão a vida inteira! E elas são mais do que músicas, são memórias de uma primeira relação com emoção!
Legal você falar sobre emoção, eu queria justamente saber qual é a sua emoção favorita.
Cara, acho que, talvez até por “não existir”, seja a saudade. É minha emoção favorita, uma palavra que deduz algo que representa a sobra daquilo que a gente não consegue explicar. Tem vários sentimentos que sabemos quais são, tristeza, alegria, angústia, pesar, nostalgia… Mas, saudade, que inclusive é uma palavra que só existe em português… É uma emoção que vem do saudosismo, vem da revisitação de um sentimento, mas você pode sentir saudade do que não viveu, do que não se lembra, do que nunca teve, do que ainda vai acontecer ou de algo que está acontecendo: “Poxa, estou aqui viajando com o meu amor e sei que vou sentir saudade disso um dia, já estou sentindo!”
Eu sinto muita saudade de coisas que ainda estou vivendo, isso é doido demais.
A saudade é um sentimento muito específico, cada um tem um. Ela acontece e a gente dá o nome de saudade porque não é mais nada. (risos) Desde criança penso nisso, lembro que a minha mãe me levava para a praia e eu já ia triste, sabendo que seria maneiro, mas que voltaria de lá, ficaria com saudade de ver os meus primos… É muito louco. Às vezes, eu lembro de um negócio e penso que não queria estar ali, mas, quando eu lembro, sinto algo. E aí dou o nome de saudade. Você está em casa, fazendo um café, sente aquilo e pensa: “Pô, a vida está andando, né?”.
Gosto muito dos nomes dos seus álbuns (“Canções de Apartamento”, “Sábado”, “A Praia”). Escolher nomes de discos é algo que acontece fácil para você?
Escolher o nome é fácil, fazer o disco é difícil. O “Canções de Apartamento” e o “A Praia” foram nomes que vieram depois do disco. “Sábado” veio antes. Mas todos foram muito relacionados ao que eu já tinha de ideias para o disco! O nome costuma ser bem óbvio com relação ao que está ali dentro. Para mim, um nome precisa explicar muito o disco. Não vou colocar “A Cadeira e a Banana” em um compilado de músicas legais. Se bem que até pode ser bom de alguma forma um título que tenha a ver com natureza morta em um álbum, mas gosto de nomes tipo Literatura de Cordel, em que uma história sobre um marido e um amante se chama “O Marido e o Amante”.
Você consegue pensar em uma colaboração sua que te deixou com lágrimas nos olhos e uma que te deixaria com lágrimas nos olhos?
Gostei muito das coisas que fiz com o [Marcelo] Camelo. Primeiro porque sou da geração que o ouviu muito e segundo porque logo no começo foi uma realização, ele gravar no “Sábado”, termos feitos coisas juntos… Ele me chamou para abrir o show dele, depois ele tocou bateria no meu disco, depois baixo, daí me chamou para ir pra Portugal, depois eu fiquei na casa dele, enfim, foi um cara que se aproximou! E gostaria muito de fazer coisas com a galera da geração do Milton, do Chico e do Caetano, do Gil… Qualquer um desses seria a realização de um sonho bizarro. Eles me educaram, são o que eu ouvia em casa, escutava-os dizendo como eram as coisas, como era ser brasileiro. Minha mãe e minha tia colocavam pra tocar em casa enquanto cozinhavam, sabe, e eu ficava ouvindo!
Você acha que o lugar onde você mora influencia muito a música que você faz?
Eu já morei no Rio, em São Paulo e um ano em Nova York. Influencia muito porque, como eu faço música e gravo desde criança, preciso de um motivo para isso. Sentar e fazer por fazer até dá, mas fica muito vago e sem nenhum critério, porque todo dia eu gravo, toco um negocinho, gravo uma harmonia e tal. Então quando você se muda, conhece pessoas novas, uma arquitetura nova, noites e dias diferentes. Você tem motivos para fazer uma música, que passa a ser para aquele ambiente novo que você descobre. Para mim, me mudar acabou virando quase que uma necessidade. A cada dois anos estou me mudando! É uma vontade de variar os estímulos ao meu redor para que eu faça discos diferentes. Você vai abrindo na cabeça o mapa de lugares que podem ser visitados quando vai fazer uma música.
A última: qual é a maior dor e a maior delícia de ser um artista?
A maior delícia é que você tem um mundo gigante, que poucas pessoas têm. Vejo as pessoas da minha família ou as que trabalham com outras coisas, que são mais focadas geograficamente em um lugar, e a noção de mundo fica um tanto mais estreita – por mais que exista a internet, porque ela é um mundo da sua cabeça: você vai onde quer ir. A delícia de ser artista-músico-performático (porque você também pode ser um artista-pintor de quadros e ficar no alto de um morro e não sair de lá) é ir tocando de palco em palco, se mostrando pra cada um. E a dor é que dá uma solidão gigantesca, porque o denominador comum de todos os lugares por onde você passa é só você. Não é como um cara que trabalha em um escritório, pega todo dia o mesmo ônibus e cria uma noção de comunidade. Os meus melhores amigos hoje em dia são da minha banda. Com os outros amigos, só se eu revisitar os assuntos, lembrar da faculdade ou criar temas para aquele momento presente. Por um lado isso é bom, te dá uma autossuficiência emocional para lidar com os ossos do ofício. É tipo um médico que não consegue ver sangue, entendeu? Se você é músico, precisa conseguir ficar sozinho para cacete, passar uma semana em hotel e não ficar triste. Você vai desenvolvendo esse mecanismo. Tem gente que entra em pânico, eu fico sozinho em casa por dias, de boa! A gente começa a buscar companhia em nossa própria cabeça.
Fotos: Carolina Vianna | Entrevista: Fernanda Meirelles
JUNHO DE 2016